domingo, 21 de agosto de 2016

Casas de vó

Em 2013 desenvolvi um projeto de fotografia de casas de vó. Comecei com a minha própria avó, em Brusque, Santa Catarina. Foi só no dia que fui visitá-la pra fazer as fotos que percebi como a casa dela era realmente muito legal. Cada cômodo, cada detalhe me fascinava, e me despertava também memórias de infância, de tantas brincadeiras com os primos, natais em família, aniversários, do meu avô cortando cana pra gente chupar. Memórias que nas idas à casa da minha vó sem a câmera, não eram tão intensamente ativadas. Visitei também outras avós em outras cidades de Santa Catarina, no interior de São Paulo e a casa de uma pajé em uma aldeia em Arraial d´Ajuda. Nos lugares que ia, aproveitava para fazer esse contato e conhecer avós de pessoas amigas, e pessoas que abriam suas portas pra mim. Geralmente passava uma tarde, tomando um café e ouvindo suas histórias. Foi um projeto muito prazeroso, acolhedor, aprendi muito com cada avó. As imagens foram feitas com câmera dslr, com uma lente grande angular 12-24mm, que dava conta de registrar a amplitude dos espaços, e uma lente 50mm para os retratos e detalhes, que traz uma estética de suavidade. Tenho muito mais imagens, inclusive de outras avós, e depoimentos em video. Inscrevi em alguns editais, mas não passei e o projeto acabou sendo engavetado.

Mas as imagens seguem vivas, e ainda gostaria muito dar continuidade na pesquisa, e transformar em um livro. 










































Esse era o texto de apresentação, escrito por mim e Lou. Hoje provavelmente mudaríamos algumas coisas no texto: 

"Casas de vó” surge do desejo de eternizar memórias e culturas ameaçadas de extinção dentro de um curto prazo devido ao avanço de um modus operandi fruto de um sistema autofágico que já não pode sustentar o seu próprio passado e o estilo de vida simples e despretensioso daqueles que com o seu trabalho forneceram o impulso para que fossem forjadas as suas primeiras fundações.
São casas antigas e humildes, cada qual a sua personalidade, assim como suas moradoras, com mobília e decoração de outra época, e com retratos dos entes prezados de diversas gerações – os mais antigos, que já se foram; os mais novos, que partiram para uma vida mais moderna em novos lares. Pequenas e modestas casas, onde famílias inteiras foram criadas, onde o espírito de um verdadeiro lar ainda subsiste, mesmo no vazio deixado pelas ausências. Moradias anacrônicas, verdadeiras poesias em forma palpável, que vêm sendo, porém, continuamente e cada vez mais cercadas pela agressividade pragmática do asfalto e do concreto, e que em breve darão lugar a lançamentos luxuosos e caros, mas ainda assim compactos e frios.

São pessoas das mais diversas origens, profissões, crenças e sotaques, que já se encontram no fim de uma longa vida de conquistas e perdas, e no momento mais frágil de sua trajetória no mundo. Vidas em que os anos são curtos, os dias longos e as horas por vezes alegres, por vezes tortuosas, lembranças guardadas em baús e na memória, recheadas de histórias de um tempo feliz, de histórias de tempos sofridos, que elas nos contam com suas palavras, gestos e olhares. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário