segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Aplicativos de celular

Cameringo
É um aplicativo pago, mas custa 4 reais. É de efeitos pra câmera, vc faz as fotos/videos/gifs já com os efeitos. Pra quem gosta de psicodelia é um prato cheio. Tem muuitos efeitos, é muito doido, e é muito legal ver o efeito já na camera, ao vivo, na hora que ta sendo filmado. É bem diferente de fazer o video e depois aplicar. Foi o aplicativo de celular com o qual eu mais me diverti.  https://play.google.com/store/apps/details?id=com.perracolabs.cp&hl=pt_BR


Kinemaster
Um editor de video bem completo, oferece muitas opções de efeitos, é é bem simples de usar. Mas a versão grátis exporta os videos com uma logo do programa, assim:
e a versão paga não é tão barata. 93 reais por ano, ou 25 pra usar durante 30 dias. 


Picsart
É meu app de editar fotos favorito. Tem várias opções legais de efeito, de colagem, cor, sobreposição, dá pra botar texto, desenhar, não tem marca d´agua. 
https://play.google.com/store/apps/details?id=com.picsart.studio


(Esse post vai ter acréscimos, na medida que for encontrando mais apps legais)

Festival do Minuto - Mapas afetivos

Tenho visto muitos filmes do festival do minuto. Esse formato de vários videos de 1 minuto, sobre o bairro, com depoimentos das senhoras, de maneira documental ou experimental ou ambas, imagino como uma possibilidade interessante pro projeto. Tanto pra mostrar nas oficinas de foto/video, e instigar as pessoas a fazerem os seus, quanto nas de zine. 

O site do festival do minuto tem inclusive uma série ótima de videoaulas pra passar em escolas e em oficinas de audiovisual: 
https://minutoescola.wordpress.com/project-tag/exercicios/

e essa lista de dicas de programas, grátis e pagos, para edição:
https://minutoescola.wordpress.com/category/dicas-e-programas/


Selecionei alguns videos premiados no concurso "mapas afetivos da cidade", e videos com a tag "mapas afetivos":

Classmates - Reza Golchin. documental
https://www.festivaldominuto.com.br/videos/36681?locale=pt-BR

Onde cê tava? - Roberto Skora. ficção
https://www.festivaldominuto.com.br/videos/36316?locale=pt-BR

O trabalho - Igor Pretto. experimental
https://www.festivaldominuto.com.br/videos/36252?locale=pt-BR

Sinfonia Urbana - Guilherme Landim. documental experimental. memória urbana
https://www.festivaldominuto.com.br/videos/37532?locale=pt-BR

Navegantes - Mário Noronha. experimental
https://www.festivaldominuto.com.br/videos/37532?locale=pt-BR

A cidade que já não está - Wayner Tristao. documental. memória
https://www.festivaldominuto.com.br/videos/37292?locale=pt-BR

Culturas Invisíveis - Gabriela de Morais. documental. periferia
https://www.festivaldominuto.com.br/videos/37438?locale=pt-BR

Memórias Públicas. Giulia Lima do Nascimento
https://www.festivaldominuto.com.br/videos/37502?locale=pt-BR

São Paulo até agora - Victor Heringer. experimental
https://www.festivaldominuto.com.br/videos/36470?locale=pt-BR

Coming - Jasmin Peco.
https://www.festivaldominuto.com.br/videos/37319?locale=pt-BR

O monólogo do espaço urbano vernacular - Solange Valladão. Fotos.
https://www.festivaldominuto.com.br/videos/35424?locale=pt-BR

º Retratos - Filipe Quadros
https://www.festivaldominuto.com.br/videos/35154?locale=pt-BR

Em devir... -  Maurício Savrassoff
https://www.festivaldominuto.com.br/videos/35733?locale=pt-BR

Interditados - Thiago Lira
https://www.festivaldominuto.com.br/videos/35637?locale=pt-BR

Diminuto - Daniel Vincent Gomes de Lucena
https://www.festivaldominuto.com.br/videos/36831?locale=pt-BR

domingo, 21 de agosto de 2016

Diálogos


 Esse é o livro do resultado dos projetos do edital Redes e Ruas aprovados no ano passado:
Essas páginas dobradas são os projetos que separei pra pesquisar que têm um diálogo forte com o nosso. Deu 35 projetos. 

Casas de vó

Em 2013 desenvolvi um projeto de fotografia de casas de vó. Comecei com a minha própria avó, em Brusque, Santa Catarina. Foi só no dia que fui visitá-la pra fazer as fotos que percebi como a casa dela era realmente muito legal. Cada cômodo, cada detalhe me fascinava, e me despertava também memórias de infância, de tantas brincadeiras com os primos, natais em família, aniversários, do meu avô cortando cana pra gente chupar. Memórias que nas idas à casa da minha vó sem a câmera, não eram tão intensamente ativadas. Visitei também outras avós em outras cidades de Santa Catarina, no interior de São Paulo e a casa de uma pajé em uma aldeia em Arraial d´Ajuda. Nos lugares que ia, aproveitava para fazer esse contato e conhecer avós de pessoas amigas, e pessoas que abriam suas portas pra mim. Geralmente passava uma tarde, tomando um café e ouvindo suas histórias. Foi um projeto muito prazeroso, acolhedor, aprendi muito com cada avó. As imagens foram feitas com câmera dslr, com uma lente grande angular 12-24mm, que dava conta de registrar a amplitude dos espaços, e uma lente 50mm para os retratos e detalhes, que traz uma estética de suavidade. Tenho muito mais imagens, inclusive de outras avós, e depoimentos em video. Inscrevi em alguns editais, mas não passei e o projeto acabou sendo engavetado.

Mas as imagens seguem vivas, e ainda gostaria muito dar continuidade na pesquisa, e transformar em um livro. 










































Esse era o texto de apresentação, escrito por mim e Lou. Hoje provavelmente mudaríamos algumas coisas no texto: 

"Casas de vó” surge do desejo de eternizar memórias e culturas ameaçadas de extinção dentro de um curto prazo devido ao avanço de um modus operandi fruto de um sistema autofágico que já não pode sustentar o seu próprio passado e o estilo de vida simples e despretensioso daqueles que com o seu trabalho forneceram o impulso para que fossem forjadas as suas primeiras fundações.
São casas antigas e humildes, cada qual a sua personalidade, assim como suas moradoras, com mobília e decoração de outra época, e com retratos dos entes prezados de diversas gerações – os mais antigos, que já se foram; os mais novos, que partiram para uma vida mais moderna em novos lares. Pequenas e modestas casas, onde famílias inteiras foram criadas, onde o espírito de um verdadeiro lar ainda subsiste, mesmo no vazio deixado pelas ausências. Moradias anacrônicas, verdadeiras poesias em forma palpável, que vêm sendo, porém, continuamente e cada vez mais cercadas pela agressividade pragmática do asfalto e do concreto, e que em breve darão lugar a lançamentos luxuosos e caros, mas ainda assim compactos e frios.

São pessoas das mais diversas origens, profissões, crenças e sotaques, que já se encontram no fim de uma longa vida de conquistas e perdas, e no momento mais frágil de sua trajetória no mundo. Vidas em que os anos são curtos, os dias longos e as horas por vezes alegres, por vezes tortuosas, lembranças guardadas em baús e na memória, recheadas de histórias de um tempo feliz, de histórias de tempos sofridos, que elas nos contam com suas palavras, gestos e olhares. 

sábado, 20 de agosto de 2016

Sobre referências audiovisuais

Curtas documentais nacionais de baixo orçamento:

Registrávicos é um curta com conversas informais com travestis no centro de São Paulo.


69 - praça da luz, são relatos de prostitutas com mais de 50 anos da praça da luz.


Benzedeiras, filme de uma amiga, Lia Marchi: 

Senhoras. Precisa fazer login no Porta Curtas pra assistir:


Documentários longa metragem:

Coutinho é a principal referência de documentarista no Brasil. Gosto bastante dos trabalhos dele. Aqui sugiro dois, O fim e o princípio, e Edifício Master.

O fim e o princípio. 
Gosto que o filme mostra também o processo, os bastidores. É uma boa referência pra entender como fazer e também como não fazer. É um filme que oferece várias contribuições pro que estamos querendo fazer.
Sinopse: Sem pesquisa prévia, sem personagens, locações nem temas definidos, uma equipe de cinema chega ao sertão da Paraíba em busca de pessoas que tenham histórias para contar. No município de São João do Rio do Peixe a equipe descobre o Sítio Araçás, uma comunidade rural onde vivem 86 famílias, a maioria ligada por laços de parentesco. Graças à mediação de uma jovem de Araçás, os moradores - na maioria idosos - contam sua vida, marcada pelo catolicismo popular, pela hierarquia, pelo senso de família e de honra.


Edifício Master. Uma boa referência pra entrevistas.
Da wikipedia: Na produção de Edifício Master, o diretor e sua equipe mantiveram-se durante três semanas dentro do edifício[3], literalmente morando lá, com a intenção de que ocorresse uma ambientação entre a equipe que produzia o documentário e os moradores. Com o intuito de conhecer melhor as pessoas ali residentes, eles chegaram a entrevistar um total de 37 moradores, extraindo historia intimas e pessoais de cada um deles e estes foram escolhidos para serem os personagens principais do filme. A gravação do documentário durou 7 dias e se ocupou de gravar o cotidiano destas pessoas. Apesar do edifício Master estar localizado em uma área nobre da cidade do Rio de Janeiro, em Copacabana, a maioria de seus moradores pertence às classes médio-baixa e baixa, principalmente comparando com a realidade da sociedade carioca. Os moradores do edifício são pessoas provenientes de diversos locais e origem, com idades diversas, e com diversas histórias de vida, mas habitando todas em um mesmo local. Estes mesmos moradores raramente se vêem, ou nem sabem da existência um do outro.

Doméstica. Gabriel Mascaro. Um filme feito por sete adolescentes que filmaram durante uma semana o cotidiano das suas empregadas, e depois o material foi montado por esse cara aí. É bem complicado, me lembra Que horas ela volta, ao mesmo tempo que é uma questão bem treta, é um documentário que evidencia o absurdo da situação, e é interessante perceber a relação entre entrevistador e entrevistado, e o olhar de quem edita.
Tem no Netflix.

A pessoa é para o que nasce
Boca de Lixo
Estamira


O som ao redor. Kleber Mendonça Filho. Tem na Netflix em qualidade melhor. Não tem tanto a ver, é ficção, mas gosto muito da maneira como as cenas são construídas, os diálogos, as banalidades, a condução sutil através do som.


Filmes feitos com câmeras de celular:


5#callscurta nacional produzido, filmado e editado por celular:

mas gosto mais do making of, que dá umas ideias legais, do que do filme em si.

tangerine. tem em torrent. longa que ficou  todo filmado com um iphone. 

searching for sugar man, documentário longa: 

Paranmanjang, curta coreano de terror do Park Chan Wook (doro ele):



Samsara. Em torrent
Baraka
porque são grandes inspirações pra mim na maneira de montar imagens, sem fala, de uma maneira muito maravilhosa e hipnotizante. 



Sobre os documentários, principalmente os que retratam grupos oprimidos, a estética da pobreza, importante pensar como eles são feitos. Todo cuidado é pouco. Cuidado pra não romantizar, pra não objetificar, pra não usar, pra não exotizar, pra não antropologizar. Qual a relação que se estabelece entre quem é retratado e quem retrata? Às vezes a gente vê o resultado final e não sabe como se deram essas relações, mas muitas vezes os filmes, as fotos são lindas, mas a forma como foram construídas, os diálogos, ou a ausência deles com as pessoas retratadas são problemáticos. 


Os próximos posts de referências audiovisuais vão ser mais projetos independentes sobre mulheres, videos do festival do minuto, sobre direito à cidade, filmes resultantes de oficinas de audiovisual, e de galeras das periferias, principalmente adolescentes.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

pesquisas sobre zines e fermentação de ideias // o que que eu vou fazer com essa tal liberdade?

Cá estou produzindo no último minuto porque né (se um dia eu lembrar, fotografarei a tirinha do Calvin de vivendo e não aprendendo para ilustrar não só essa postagem como a minha vida). A oficina de zines tem existido na minha cabeça desde que soube que o projeto existia, mas não passou de uma vaga lembrança - até agora. Fui convidada pra dar uma oficina de zines no Museu Afro Brasil porque a Nega Preta chegou lá e foi apenas sucesso. Essas coisas que dão um gás, um ânimo, uma vontadezinha de existir.
Mas bem, vou dar uma oficina DE QUE? D:
Desde o começo, eu queria ter uma zine minha falando sobre como fazer zines (se der um ruim e eu ficar nervosa e falar tudo nadav pelo menos tem uma chance de eu continuar a oficina porque as informações tão lá, já).

Acabei de descobrir que to fazendo o mesmo formato AND tema que essa zine maravilhosa aqui. Sincronicidade da sequela.

Bom, enquanto segue o baile ainda estou tentando fazer a tal zine. Quero fazer um apanhado de ideias sobre fazer zines, um lado todo feito a mão e um lado só de prints e coisas digitais, afinal de contas pensar apenas em zines feitas só a mão é subestimar a galera, né. 


cafeína zines: lista de zineiras 
capitolina: zine 1 e zine2 
zines livretos: modelo de oficina e 150 minutos
zine a rodo: publicações em serigrafia (me inscrevi mas acho que preciso ter um portfolio decente)
tiny books (pinterest)
gabriela bruzadin: zines (modelo de portfolio)
rizoma: minizine/ porque estamos nas ruas 


oficina de zine // museu afro brasil



Já é agosto e finalmente consegui começar a me preparar para as oficinas do projeto. Tem muita coisa ainda para ser feita, mas sinto que consegui dar um passo importante para a minha formação que foi a oficina de zines no Museu Afro Brasil. A Amanda, que trabalha no educativo, conheceu a Nega Preta, e nos conhecemos na exposição da Rosana Paulino, quando ela sugeriu que eu desse uma oficina. O tempo, esse safado, calhou dela me convidar para a oficina na semana seguinte a Distúrbio Feminino, quando voltei a produzir. Tive 3 dias para me preparar, e parte da mágica estava aí: eu precisei desdobrar o tempo (e o espaço, pensando que eu estava de mudança montada) para conseguir estar lá. Foi tão mágico que eu consegui, sem fritar de ansiedade. Ainda consegui um floral na quinta, foi uma semana bem amarrada. Mas eu estava cansada demais, então teve pouca organização e poucos registros. 
Nesse post fazer a retomada do processo e algumas das minhas percepções e perspectivas.

27/07 - quarta






A proposta de data era na sexta-feira, 29, às 12h, e acho que a emoção do último minuto falou mais alto e eu topei. Foi ótimo ter um objetivo, poder focar em algo. Como eu já estava na onda da semana anterior, cheia de zines novos e Negas Pretas dobradas, senti que tinha o que eu precisava e prontas nunca estamos mesmo, então só vai. Aproveitem a urgência de tudo pra retomar a minha agenda, consegui fazer tudo num tempo bacana, sem sofrer e nem deixar nada pelo caminho. Foi exaustivo, mas totalmente valeu a pena, sentimento de MANDEYBEIN acima de tudo. 
Eu não tinha certeza de como me preparar pra oficina em tão pouco tempo, então foquei em produzir o material que eu queria, que fosse um guia para que eu lembrasse de falar sobre todos os assuntos que acho importantes para se falar de zine. Apesar de não ter conseguido usar a zine como eu queria, foi bom tê-la pronta, acho legal que as pessoas possam levar algum material para servir de instiga pra casa. Também comecei a pensar recursos para dar condição de usar esse material. 



Na quarta feira eu fiz a frente de um a4. Comecei pensando um título, e aproveitei que gosto muito do formato de excesso de nomes, resolvi usar esse recurso - o que acabou ajudando muito no desenrolar da produção. Além disso, consegui deixar só os títulos que de alguma maneira fazem gancho sobre algo que eu gostaria de falar na zine. Uma das falhas dessa oficina foi não delimitar um tempo para que explorássemos conjuntamente a zine. 
Como queria achar uma dobradura diferente das que eu conheço, fui experimentando. Por conta da falta de tempo, eu já queria produzir tudo no formato escolhido pra evitar de precisar ir até a gráfica scanear e montar no photoshop. 



Decidi usar o maior número dos recursos que eu acho importantes e que coubessem no a4, para que ela funcionasse sozinha como um guia-instiga sobre produção de zines. Usei o acervo que tinha mais a mão em casa: revistas antigas, uns livros de medicina e biologia dos anos 80, piauí, manuais de instruções de eletrodomésticos antigos, um dicionário. Eu não tinha planejado como a zine seria, mas eu queria um lado só de recorte e cole (o outro, inicialmente, eu queria que fosse de prints, mas acabou que a pesquisa estava chata e redundante, faltou a espontaneidade que funciona bem tanto para os recortes quanto os prints, embora a ideia de uma zine de prints/ wpp tenha ficado mesmo na minha cabeça). 



Eu queria trabalhar com conceitos do dicionário por vários motivos: "zine" e "fanzine" não são verbetes, e a falta de definição é muito importante para que o estilo seja livre e as várias possibilidades estéticas, temáticas e de divulgação sejam tão amplamente apropriadas por muitos grupos urbanos. Além disso, é legal perceber as cagadas que estão escritas no dicionário e, assim, se tornam verdades, como "criar: tirar do nada". Partir do princípio que a criação vem do nada e quem cria algo viveu o mundo, aprendeu conceitos, experimentou arte, ciência, conceitos, enfim. Em algum momento do processo, decidi fazer uma criação a partir da cópia e da ressignificação, o que muito me agrada, afinal existe abundância e saturação de imagens, produções, propagandas no mundo. 
Estilisticamente, prefiro a sobrecarga de informação ao vazio, embora saiba que artista deixa bordas brancas e valoriza o objeto central entre outras coisas, eu curto a baratinação, a confusão, não saber pra onde olhar, a pancadinha no cérebro. Por isso, foquei a procura em: texturas e imagens de fundo, textos ou frases que trabalhassem direta ou indiretamente os assuntos dos verbetes recortados. Para as imagens, procurei os clichês, nesse momento eu ainda estava pensando em trabalhar com prints e queria explorar o conceito de meme. Um dos recursos que acredito ser muito interessante para zines é explorar essas imagens que repetidamente são usadas, para que seja um material mais universal, que não use linguagens específicas de certos grupos ou datadas.

Na oficina, eu gostaria de ter explorado mais o formato "manual de instruções", por dois motivos: 1. esse é um formato que é íntimo da maioria das pessoas, seja o manual que ensina a montar ou usar algum aparelho, seja o livro de receitas que ensina passo a passo a feitura de uma comida e 2. porque foi muito legal recortar os manuais que achei em casa, que geralmente viram lixo (assim que o equipamento funciona). É um uso inteligente de recurso barato. 

verso da zine

A mídia líquida era o gancho para falar sobre massificação midíática: os formatos engessados do que e como noticiar, a transmissão da informação que se pretende definitiva, verdade, absoluta, etc etc etc e como a zine, por não ter editor, não visar lucro, não ter um público com expectativas permite mais autonomia dos assuntos, não necessariamente chegar a um objetivo, não ter idéias definitivas e redondas. Traduzindo em miúdos, dá pra fazer o que quiser, como quiser, e difundir sem se importar com o efeito final. Mas acabou que as propagandas foram uma fonte de risos, achei legal corromper esse formato, sem a pretensão de soar verídico.



28/07 - quinta

Nanquim, sumi-e e sharpie sobre canson,
21 x 29,7cm
.
A frente da zine estava linda e empaquei com o verso. A idéia que parecia tão genial de fazer uma ziniprints se mostrou muito diferente do que eu tinha imaginado, e não sabia qual era a alternativa, até a maravilhosa Soso me dizer: faz um cartaz no versooooo, o que obviamente é um conselho de zineira que manja das parada. O cartaz no verso tem uma enorme utilidade prática: não é preciso coordenar os cortes da frente e do verso, e as impressões invertidas não impossibilitam o corte da zine. Definido que o verso seria um cartaz, foquei em produzir um desenho, que foi um autoretrato. A partir dele desenvolvi o verso, mais autoral que a frente, o que também é uma característica do meu trabalho. Usei papéis da minha coleção, desenhos que foram produzidos em outras situações, recortes botânicos, todo em preto, branco e vermelho, meu atual estudo de cores, com bastante coisa escrita a mão, explorando caligrafia, outra gama de recursos para zine que é a edição e curadoria dos seus próprios materiais, que permite um exercício de intimidade com "o artista". O Leonilson certamente é um referência nesse quesito, e acho que o Sidney Amaral está vindo a ser também.

Fiz dois carimbos de stencil, "ERRE ERREMAIS ERREI" e "CÓPIA É AFETO". Foi o cantinho total experimental da zine. Gostei do resultado, quero explorar como possibilidade.






Além disso, explorei nessa zine também a dedicatória. A Nega Preta tem 3 dedicatórias, mas porque foi mesmo feita para aquelas pessoas, era parte do processo de entendimento e aceitação da morte do meu avô. Essa é uma zine de trabalho, ao mesmo tempo que é uma zine que reúne aprendizados, discussão teórica, práticas de todo tipo. De novo eu citei a Silvana, que é a minha artista favorita e volta e meia me presenteia com uma perolinha de sabedoria, presumindo que as nossas estratégias de sobrevivência e acertos dentre os erros são também os nossos diálogos sobre arte. Não fosse Sirvana e suas sementes-pérolas, nunca haveria VAI. Lembrando o Leonilson que tem sido uma das chaves da minha pesquisa/delírio, o desvio pelo qual passo infinitas vezes, "às vezes eu acho que gosto das pessoas só pelo tanto que eu posso dedicar trabalhos a elas", e nesse exercício de cultivo, de preservar relações e gostar das pessoas, achei que era importante dedicar essa zine, que também é síntese e resultado de um processo, algo enorme transformado no simples. Essa zine é pros carneiro que estão longe. Essa zine é pro Bóris, que tem sido parceria e estímulo nesse processo de reconhecimento e criação da persona artista. Essa zine é pra Lauris, que veio me ver e eu não pude, nessa semana mesmo, e tem sido escuta e pé no chão, e tanta compreensão nesse abraço que ando me negando tanto. Essa zine é pra toda galera que devia voltar. É pra Soso pela companhia. É para D., pela inexistência e possibilidade de descoberta


29/07 - sexta

E às 11h eu estava no Museu Afro Brasil entre revistas maravilhosas, falando sobre como fazer uma zine. Foi uma experiência muito louca, fazer uma oficina para experimentar minhas habilidades. Testei a zine, e já pensei outras estratégias para usar melhor o material, o tempo, as habilidades das pessoas. Experimentar erros pode ser um bom jeito de aprender, afinal de contas, a fazer a parada.
O grupo era bem variado. Uma pessoa já tinha produzido zines, na adolescência, quando era do rolê punk. Todas as outras já haviam visto ou lido, em diferente situações: centro acadêmico, movimento sindical, militância feminista, movimento hip hop. Enquanto eu ouvia essas pessoas, pensei o quanto de material incrível já passou pelas minhas mãos e não existe mais, as zines que eu fiz sem nem saber que eram zines.
Apesar do tempo ser curto pra tanta coisa existir, teve uma empolgação generalizada e saíram várias produções incríveis.






Uma das dobraduras que eu ensinei foi o (que agora estou chamando de) caderninho de emergência ou caderny de estilete e cola. É a dobra que atravessa as folhas, mais uma capinha dura. Fiz duas capas: uma Alison Saar e uma Sidney Amaral. Agora já surgiram idéias até de fazer oficina de caderninhos, além da muy urgente zine sobre dobras para usar nas oficinas. Provavelmente esse formato do livrinho seja o mais legal pra essa zine. Voltando pra casa, vim lendo o catálogo da exposição O Banzo, o Amor e a Cozinha de Casa, do próprio Sidney. Enquanto eu balançava no metrô, caminhando os longos percursos em linha reta, ia me molhando daquelas palavras tão bonitas, de ideias tão escuras, emaranhadas de resistência, intimidade, procura por um lugar confortável. Percebo que, embora lento, o movimento de procura pela minha turma tem dado frutos, lentamente tenho ganhado espaço e experiência nisso que quero ser, o que quero viver. Ouço ele falar e penso em quantas narrativas que se complementam, enormes rios que jorram nos mesmos caminhos de solidão, procura. Vou costurando os aprendizados, respirando o tempo que já foi. Uma saudade histórica, uma procura de lugar, o exercício de voz.



Continua.