terça-feira, 27 de setembro de 2016

karol maia // nossa história invisível



A coisa mais legal do VAI tem sido encontrar um monte de gente mais ou menos da minha idade, fazendo coisas maravilhosas com baixos recursos. Conheci a Karol através de seu incrível projeto Nossa História Invisível.  Há algumas semanas, fui ver a estreia da websérie no Matilha Cultural, sala cheia, foi muito lindo. Estamos conversando sobre várias coisas desde o começo do projeto e hoje rolou um skype firmeza com várias referências e dicas pra ajudar a pensar o processo (que me deu vontade de ter mesmo um projeto skype sessions pra conversar sobre temas específicos, trocar uma figurinha, etc). 
Começamos falando sobre o projeto e anotei coisas que ela sugeriu ou achou da nossa proposta:
  • pré-entrevista: antes de ligar a câmera, conversar para descobrir histórias e informações para serem usadas durante a entrevista;
  • saber que as pessoas podem ficar tímidas e não conseguir falar, portanto
  • o gravador pode ser um bom aliado;
  • fábrica de pixe: a narração de uma história na qual diversos relatos se complementam;
  • intercâmbio de fotos: ter fotos armazenadas de outras entrevistadas para serem disparadores dos relatos;
  • fazer a takes da pessoa atuando, ex. olhando para o vazio, andando na rua, interagindo com objetos;
  • quanto mais imagens melhor;
  • pode ser interessante a perspectiva do jovem: o bairro que deixa de ser lar para ser hotel, a vida transcorre no centro;
  • bom termômetro de passagem do tempo, transformações urbanas.
Depois rolaram várias referências legais:

Cultura das bordas, projeto dela sobre moradores personagens do bairro.

Gostei muito, especialmente do episódio do Luis Fernando. Fiquei toda mole e emocionada, transbordou ternura em cores vibrantes, achei tudo muito lindo esteticamente. Achei ele um personagem bem atemporal, um retrato tão real e possível de juventude. Mas a série toda é belíssima, me deu vontade de abraçar todo mundo.

Video poesias, de Goldlink pela rubberband.
São videos maravilhosos, a voz dele é incrível, mas eu não entendo inglês. Sempre dá essa sensação que bato na borda da piscina e volto, nesses mesmos lugares. Preciso aprender essa lingua. Me lembrou os slams, me fez lembrar a necessidade que eu tenho tido de voltar a trabalhar com a palavra, o desejo pela palavra falada. 

Flâner, de Cecile Emeke.
Bastante planos de pessoas atuando. É uma webserie de 4 episódios sobre negritude na França, que faz parte da strolling series, "conectando as histórias dispersas da diaspora negra". É um projeto maravilhoso, múltiplas perspectivas de referências negras não eua-centrada. Me fez pensar sobre como eu não sei nada a respeito dos fluxos de haitianos e várias identidades africanas que existem em SP.

Continue curioso, também pra reparar nos planos de ação. Fofo. 

Staff riding, o video favorito dela.
É muito maravilhoso, sobre surfistas de trem na África do Sul. Mais um retrato muito real de juventude, é muito potente ouvir discursos da juventude sobre a morte. Esteticamente, o curta é incrível, as construções de urbanidades com mapas, vistas dos trens e fluxos de pessoas. Gostei muito, gostaria de filmar pessoas andando nas ruas do bairro.

Brandon Stanton, do projeto Humans of New York.
Acho muito legal quando a proposta cria alguma intimidade entre espectador e personagem, principalmente quando é uma pessoa que eu dificilmente encontraria no rolê. Acho que é uma atmosfera legal pra entender melhor outros mundos.
Bônus: ele ensinando a chegar junto nos humanos de nova iorque. Achei muito legal encontrar isso nessa altura do campeonatinho.

Um dois tres e ja, não lembro o porquê desse
É uma série da Galeria Experiência, laboratório fotográfico na Vila Madalena, sobre memórias de infâncias. Esse é do Jun Matsui tatuador muito sério - que eu nem conhecia - de SP. Achei bonito como um video curto consegue ir bem fundo tão rápido. Fiquei pensando sobre a possibilidade de entrevistar pessoas nas ruas para fazer videos drops.

Hélio Leites.
A Márcia Cardeal, que é muita alumi
ação na minha vida, já tinha me falado dele, e eu nunca tinha visto nada sobre o artista das miudezas, das coisas cotidianas, inutensílios. "A  tristeza mostra pra gente coisas que a alegria não deixa ver".

Charlotte SP, filme nacional gravado com celular, acabou de estreiar. Queria que alguém me convidasse pra ver e pagasse meu ingresso, que eu nunca vou ao cinema, não queria gastar meus pobres golpinhos pra ver vida de modelo e seus migos ricos.


Tá bom ou quer mais? Em quarenta minutos de conversa. Tá, meu bein?

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

insvestigações situacionistas // pesquisas teóricas

Sexta-feira, finalmente me rendi ao café e comecei a trabalhar 14h30. Nada mal pra uma semana dessas. Amora continua com seu xixi apenas diário, finalmente fez cocô e essas coisas importam para o processo de criação. Ao que tudo indica, a partir de segunda-feira começamos a receber os equipamentos de impressão e eu estou TÃO ANIMADA. Acredito que tendo os equipamentos de criação ao acesso da mão, o processo criativo vai fluir numa velocidade que me agrade mais. Estou cansada e dispersa, mas apesar disso tenho certeza que estudar é o que mais vai me causar prazer agora; ontem os pomodoros foram muito eficientes, consegui trabalhar sem falcatruar e realmente fiquei bem concentrada nessa função. 

DANDO OS COMEÇO, tenho pensado muito na necessidade de desenvolver alguma técnica para me sentir mais confiante quando saio de casa para fotografar, para ter um olhar ativo. Como ontem eu consegui bastante informação sobre o caminhar, acredito que seja um bom ponto de partida para repensar a minha relação com a urbe. 
De alguma maneira, me sinto flertando com a geografia e com novas visões sobre o espaço e como habitar. Penso que me sinto muito presa às matrizes de conhecimento com as quais me sinto confortável ou "iniciada". Percebo também a pequeneza do tanque que me enfiei, e pode ser que estudar e me sentir íntima de novos temas, vernáculos, idéias ajude a dissolver o marasmo e o tédio. 

Walkscapes: o caminhar como prática estética, de Francesco Careri. Tenho que pegar essa criatura. Consegui emprestado!!! Santo saite faces.

photowalk: esse site reúne informações sobre artistas que fazem caminhadas fotográficas, registram coisas away, caminhadas, enfim.

ainda estou achando apps sobre deriva e espaço urbano.
situationist (não existe mais)
derive urban exploration app (já postei antes e não gostei)
lugares invisíveis (que não entendi como funciona ainda, mas parece incrível)


dérive parece promissor, bonito e fruto de um trabalho artístico, o que evidentemente me emociona mais. você escolhe uma trilha sonora e vai. vou derivar com ele., 


investigações sobre debord, situacionismo, deriva e ideias para a proposição de vistas

a-do-ro manifestos, trabalhar com literatura planfletária foi uma ideia real durante vários anos de juventú. 
A alienação e a opressão na sociedade não podem ser mantidas em nenhuma de suas variantes, mas sim, apenas rejeitadas em bloco com essa mesma sociedade. Todo progresso verdadeiro fica evidentemente suspenso até que a multiforme crise atual encontre uma solução revolucionária.

Na sociedade dominante de hoje, que produz em massa desconsolados pseudo-jogos de não-participação, uma atividade artística verdadeira é forçosamente classificada no campo da criminalidade. É semiclandestina. Aparece sob a forma de escândalo. (já foi, querido, o espetáculo-kapital engoliu qualquer autenticidade)
Suas experiências se propõem, no mínimo, a realizar uma revolução do comportamento e um urbanismo unitário dinâmico, susceptível de se estender para todo o planeta; e de se propagar, em seguida, para todos os planetas habitáveis. (quem não ama um boy megalomaníaco e colonizador do mundú?)

Contra a arte unilateral, a cultura situacionista será uma arte do diálogo, da interação. Os artistas - como toda a cultura visível - chegaram a estar completamente separados da sociedade, assim como estão separados entre si pela concorrência.  
Eu não colaria com esse bonde.

Breve histórico da internacional situacionista 
“As grandes cidades são favoráveis à distração que chamamos de deriva. A deriva é uma técnica do andar sem rumo. Ela se mistura à influência do cenário. Todas as casas são belas. A arquitetura deve se tornar apaixonante. Nós não saberíamos considerar tipos de construção menores. O novo urbanismo é inseparável das transformações econômicas e sociais felizmente inevitáveis. É possível se pensar que as reinvidicações revolucionárias de uma época correspondem à idéia que essa época tem da felicidade. A valorização dos lazeres não é uma brincadeira. Nós insistimos que é preciso se inventar novos jogos”. (guy debord)
Quando os habitantes passassem de simples espectadores a construtores, transformadores e “vivenciadores” de seus próprios espaços, isso sim impediria qualquer tipo de espetacularização urbana.
“O que você chama momentos, nós chamamos situações, mas estamos levando isso mais longe que você. Você aceita como momento tudo que ocorreu na história: amor, poesia, pensamento. Nós queremos criar momentos novos” (lefebvre)
A psicogeografia foi definida como um “estudo dos efeitos exatos do meio geográfico, conscientemente planejado ou não, que agem diretamente sobre o comportamento afetivo dos indivíduos”. E a deriva era vista como um “modo de comportamento experimental ligado às condições da sociedade urbana: técnica da passagem rápida por ambiências variadas. Diz-se também, mais particularmente, para designar a duração de um exercício contínuo dessa experiência”. Ficava claro que a deriva era o exercício prático da psicogeografia e, além de ser também uma nova forma de apreensão do espaço urbano, ela seguia uma tradição artística desse tipo de experiência (...) A deriva seria uma apropriação do espaço urbano pelo pedestre através da ação do andar sem rumo. A psicogeografia estudava o ambiente urbano, sobretudo os espaços públicos, através das derivas, e tentava mapear os diversos comportamentos afetivos diante dessa ação, basicamente do caminhar na cidade.

Era situacionista “que se refere à teoria ou à atividade prática de uma construção de situações. Indivíduo que se dedica a construir situações” (26). Uma situação construída seria então um “momento da vida, concreta e deliberadamente construído pela organização coletiva de uma ambiência unitária e de um jogo de acontecimentos”.
“Nossa idéia central é a construção de situações, isto é, a construção concreta de ambiências momentâneas da vida, e sua transformação em uma qualidade passional superior. Devemos elaborar uma intervenção ordenada sobre os fatores complexos dos dois grandes componentes que interagem continuamente: o cenário material da vida; e os comportamentos que ele provoca e que o alteram”

Este seria a fronteira onde nasceria a alienação mas onde também poderia crescer a participação; assim como o lazer seria o tempo livre para o prazer e não para a alienação, o lazer poderia passar a ser ativo e criativo através da participação popular.
O título do mapa, The Naked City, também escrito em letras vermelhas, foi tirado de um film noir americano homônimo (36). O seu subtítulo, illustration de l’hypothèse des plaques tournantes, fazia alusão às placas giratórias (plaques tournantes) e manivelas ferroviárias responsáveis pela mudança de direção dos trens, que sem dúvida representavam as diferentes opções de caminhos a serem tomados nas derivas.
Os mapas situacionistas, psicogeográficos, realizados em função de derivas reais, eram tão imaginários e subjetivos quanto a Carte du pays de Tendre; eles simplesmente ilustravam uma nova maneira de apreender o espaço urbano através da experiência afetiva desses espaços. Esses mapas, experimentais e rudimentares, desprezavam os parâmetros técnicos habituais pois estes não levam em consideração aspectos sentimentais, psicológicos ou intuitivos, e que muitas vezes caracterizam muito mais um determinado espaço do que os simples aspectos meramente físicos, formais, topográficos ou geográficos.
 mapa de tendre

  • Como um filósofo, seja curioso com as coisas aparentemente insignificantes do cotidiano, elas são o material da exploração psicogeográfica;
  • Mantenha um diário e reúna nele as impressões de suas derivas da forma que achar mais conveniente. Estudamos a cidade para transformar a forma com que a vemos;
  • A noite também pode ser explorada, como falei em outro texto sobre sonhos lúcidos, é interessante criar um caderno de sonhos e insightspara associá-lo as experiências diárias. Poucas práticas proporcionam material criativo mais rico que essa;
  • Não seja passivo, interfira no meio! Faça desenhos, grafitagens, performances, torne tudo público (anonimamente ou não). A cidade não é só para estudar, mas sim para modificar. Isso é um diário também, são pistas para outros jogadores urbanos, uma reação em cadeia da consciência coletiva com desdobramentos imprevisíveis;
  • Meditar, ou seja, sentar e não fazer nada, também é uma forma de deriva (talvez a mais interessante delas). Se conhecemos a cidade andando livremente, conhecemos a mente descansando em seu estado natural, observando sem maiores expectativas.
making maps: diy cartography
superando o turismo, hakin bey
the situationist city (livro)
Urban Maps: Instruments of Narrative and Interpretation in the City
internacional situacionista online
cartografia escolar e boas referências para trabalhar com jovens
Uma cartografia das práticas arquitetônicas subversivas: relato de atividade desenvolvida para matéria de arquitetura com crianças em MG_Espaço; representação; experimentação; construção
the leaning tower of venice: acho que pode ser um modelo bonito de zine, review


sobre o trânsito de pessoas no decorrer de um breve período de tempo (me lembra a vontade de filmar coisas como: maneiras de descer um morrinho, possibilidades de desvio de poças d'água e goteiras, etc)

mapas y teknologia

openstreetmaps: mapa livre aberto e editável
mapas livres: projeto ptbr que trampa com openstreetmaps
mapzen: plataforma de mapeamento
latin american openstreet conference: 24~27 de novembro
técnicas de mapeamento

oficina de mapas livres
ótimo frame


Hoje foi um dia produtivo, trabalhei 7 pomodoros nisso, 4 horinhas de pesquisa. Cansei, entediei, vou fazer algumas outras coisas. Tô baixando um filme que ~~pode ter a ver ou não~~ e afinal de contas é sexta a noite e essa não foi uma semana fácil.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

o processo é lento // pesquisas teóricas

Tem isso de sempre achar que vai ter um tempo bom pra produzir, pra criar, que o mundo vai dar um tempo pra não atravessar o processo criativo. Vinte-quase-trinta anos na cara e ainda não aprendi que o negócio é louco o tempo todo, e tem que conseguir desenhar no meio do caos, ter ideias lindas no meio da chuva de forninhos. 
Há semanas eu percebi a necessidade de alguma formação teórica, e embora eu até soubesse onde buscá-la, fui só deixando a coisa passar. Essa semana já está encabeçando o fim, e com essa treta renal da Amora enquanto as coisas não estabilizarem eu não vou querer sair. Mais um período de clausura, vamos nessa. Decidi aproveitar para ler, e antes de tudo é preciso começar.
Fui procurar as referências que o Flávio falou láááá atrás e nunca efetivamente li. Apesar de tudo, esse tempo de casa do alto foi de muita superficialidade, sem mergulhar em nada. Foi bom ver tanta coisa, mas agora é preciso submergir.

Manual de mapeo colectivo, do Iconoclastas
Coletivo Parabelo
Coleção teatro Rumos Itaú cultural 2010-2012 (pesquisas e testemunho poético de Eleonora Fabião)
Entrevista com Sueli Rolnik para Redobra na plataforma corpocidade da UFBA
O corpo vibrátil de Lygia Clark por Suely Rolnik
Hora da micropolítica, entrevista com Suely Rolnik para o Instituto Goethe

Essa foi a minha primeira pesquisa. Essa semana está especialmente difícil me concentrar, então quero focar em construir a tiuria para uma saída fotográfica. De alguma maneira, ter o que fazer que ajuda a fazer o que tenho pra fazer (!), então lá vamos nós.

O projeto pra essa noite é:

  • estruturar como fazer a zine "vistas". Com uma pinlux, os derivantes irão fotografar as vistas do bairro (de um ponto de partida em direção a um ponto de encontro ainda desconhecido). Quer usar as variáveis: mato, eletricidade e água. 
  • escolher pelo menos uma estrutura de mapa de construção coletiva para experimentar semana que vem.
  • realizar as duas primeiras tarefas em consonância com as leituras destacadas.
Manual de mapeo colectivo







Desde o começo do projeto estava apaixonada pelos mapas, mas estava faltando força foco e fé. Já tinha entrado em contato com materiais dos Iconoclastas, mas não tinha experimentado pensar o projeto através de técnicas de mapeamento. Tive boas ideias e acredito que já tem bastantes propostas a serem testadas e, talvez, realizadas na próxima semana para dar início as materializações que eu tanto desejo.



Vistas da Vila Buenos Aires
Essa idéia foi inspirada no Vistas do Largo, da Oficina da Luz, um projeto que me marcou muito e desde 2010 povoa de macaquinhos o meu sótão. Hoje olhando as fotos de novo, penso que já era a própria cartografia afetiva, ou pelo menos um recorte dela, essas vistas. Queria muito desenvolver um projeto bonito, que fosse esteticamente atraente e elegante, com as fotos da quebrada. Os postais de vistas de SP na primeira metade do século passado indicavam pompa e elegância, apresentando uma São Paulo muito distinta de se ver. Pleno século da selfie, e a foto impressa ainda é uma raridade, uma caridade (no sentido de ser caro), e penso que uma zine elegante com postais pode ser muito prazeroso de ser olhado, e criar um outro ânimo para admirar a Vila. Nem sei como procurar referências, tão ruins são os resultados pras minhas palavras-chave.

Experiências de um clique só
Tenho pensado sobre a necessidade de segurar a ondinha na hora de registrar as coisas. O hd se desdobrando em megagigas de imagem frame retrato nude selfie arte ideia insight paisagem que não serve pra nada (a menos que um dia sirva, mas quase nada serve, nem de afeto, porque a inundância de informação pasteuriza tudo).
E mesmo sendo um post estúpido, é uma ideia muito boa: postais de uma pose só, o que existe é a verdade, e não uma possibilidade; a sua própria visão final. #nofilter
O objetivo é sensibilizar a observação e as noções de projeção, tempo de exposição, a ritualística do momento, a importância de cada gesto, a aceitação do seu próprio produto artístico e, sobretudo, a apreciação do erro e do ruído. É a possibilidade de trabalhar narrativas fantásticas a partir das distorções de baixa resolução da realidade. 

Reacendendo questões sobre o andar-caminhar
à deriva | sesc sp
percursos em deriva, de cristina ataíde, experimentações no mato e a cidade (nunca esquecer do projeto da loucura da montanha)
esse post do Coletivo de Teatro Dodecafônico sobre o livro Walkscapes, do Francesco Careri abriu um mar de possibilidades até então intocadas ________>
walking as knowing as making definitivamente eu ainda não entendi esse site por isso ele parece tão maravilhoso, mas aparentemente essa galera se encontrou numa universidade para ler, andar, discutir e registrar percurso. parece muitíssimo absurdo.
O pedestre e o passante, sobre a dimensão estética da vida urbana em revista errática !!!
elogio aos errantes: breve história das errâncias urbanas, achei muito interessante o fato de dar o nome errante para essas figuras nômades que rasgam a paisagem da urbe. Parece ser um texto bem denso e acadêmico, mas no fim a gente nunca sabe.

Muitos desejos pra pouco tempo. Vou passar o resto da semana em casa, sair só domingo e segunda. Espero conseguir evoluir nas leituras e nas concretizações.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

mapa afetivo. como chegar na minha casa.


passo pelo rastro do espetinho que custava um real e sempre tinha um monte de caras ali mas ele não existe mais dizem que mudou de lugar mas não sei pra onde foi mas pra mim ele continua existindo pois sempre que passo ali vem essa lembrança que é recente até e vem até o cheiro se bobear vez ou outra observo um detalhe alguma casa que nunca tinha reparado isso acontece mais quando ando em companhia com alguém tem uma pizzaria sorveteria que é a última a fechar e quando passo e ela já está fechada vejo que é tarde mesmo e lembro da minha mãe falando pra sempre pegar lotação porque é perigoso porque não tem ninguém na rua mas é tão boa essa sensação de escuridão e ninguém na rua tem a igreja com seu letreiro escrito algo tipo vamos acordar todos juntos contra a exploração e sempre lembro de ti quando passo ali pois tu que me fizeste perceber a mensagem que eu nunca tinha lido mesmo ela sendo luminosa vermelha gritando me leia por favor tem a igreja redonda da cúpula azul à qual pertence esse letreiro e parece que tudo gira em torno dela várias ruas dão até ela e lembro às vezes do velório do meu avô há uns quinze anos que foi ali e lembro quando passo pela escada da igreja de quando entramos eu joão e carla ali e tinha o santo antônio e vitrais lindos e dentro era tudo azul por conta da cúpula e sempre tenho vontade de dar uma entrada mas essa hora ela já tá fechada e sigo subindo me aborreço um pouco com as subidas que são tão brandas mas meu corpo e principalmente meu pulmão insiste em não gostar delas mas vamos lá passo pela banca inabitada e sempre penso que ali atrás entre ela e a pracinha a primeira pracinha do caminho tirando a praça do lado do metrô dá um bom esconderijo de gente bate uma pontinha de medo mas não é nada continuo seguindo pela escola e as coisas todas pintadas no muro que nem lembro direito o que é segunda praça e a feira que tem toda terça à tarde ali o bar vermelho que marca o meio da jornada é um bar engraçado que tem uma escada de caracol branca pequena na área externa que dá pro nada, uma stairway to heaven sempre tenho vontade de subir nela cantar uma música ali em cima dar um close sigo reto tem a casinha azul um semi nível abaixo da rua na esquina do outro lado do bar que sempre tem umas roupas coloridas no varal mas à noite a cor é o escuro e as roupas não existem gosto disso mais uma praça quando não é tão tarde sempre tem uns boy fumando beck nessas praças às vezes fico meio desconfortável de passar por não saber se eles vão mexer comigo na real mexer quase nunca mexem mas comentam mas prefiro passar do outro lado da rua aí tem a praça que sempre tem os despachos vasilhas de barro com frutas comidas dentro as vezes uma pomba morta dentro as vezes as penas as pernas ensanguentadas caídas no meio da calçada e os rastros das macumbas perduram durante dias ali tem os lava rápido um murão com um carro amarelo grandão pintado e na placa escrito jordânia que é o nome da rua essa rua fofa cheia de praças e do outro lado do lava rápido mais uma praça onde tem os cachorros pretos que sempre latem e os cachorros dentro das casas que sempre latem também quando passa gente e quando é outono tem um pezinho de pitanga e pitanga me desperta uma nostalgia boa da infância passando a praça dos cachorros pretos onde tem também a casa das crianças onde um dia era dia das crianças e elas tinham colocado todos os brinquedos pra fora de casa e tavam ali na calçada brincando e parei ali e fiquei brincando umas horas com elas mas hoje não lembro dos rostos sou muito ruim com isso adoraria visitá-las fazer amizade com elas mas a timidez me faz sempre apenas passar reto ali aí logo vem o posto onde uma vez um cara doidão tava ali cuidando da conveniência e nos chamou pra sentar beber um vinho e ficou falando de como ele era bicho do mato e falou que no momento ele tava morando ali mesmo e mostrou onde dormia num espacinho na própria conveniência em meio a bombas de gás e o cheiro forte e o colchão no chão e a mochila e uns livros e tem o mercado do outro lado da rua que depois de fechado fica tocando uma rádio toda noite lá de dentro e fico imaginando mil coisas que possam estar acontecendo atrás daquele portão aí tem a casa que é em cima do dentista que é a casa que uma das meninas do dia das crianças disse que mora e eu adoraria bater ali um dia e chamar ela pra brincar e depois sempre fico na dúvida se subo pela rua da pracinha que é mais legal mas a subida é maior ou pela rua do lado que a subida é mais de boas e geralmente vou pela menor subida passando pelo milkshake que fui com a tay e tem a loja onde às vezes compro ervas pra banhos e a casa de umbanda que tenho vontade de conhecer mas que meus pais recomendam que não porque tem umas vizinhas bem treta bem treta mesmo familia italiana briguenta mas que briga por uns motivos muito errados e odeiam meus pais por histórias do passado que frequentam e fazem trabalhos ali e acho melhor mesmo não ir e chego na minha rua que gosto muito não porque é uma rua bonita ou interessante esteticamente mas porque as pessoas aqui são ótimas e passo pela casa do carlão e da tereza e sempre tenho vontade de entrar ali pra tomar um café porque eles são tão legais e passo pela casa onde sempre tem cheiro de cocô e o terreiro que frequentava onde aprendi muita coisa e abro a mochila pego a chave de casa abro a porta e ufa operação realizada com sucesso agora é correr pro abraço do colchão do computador escrever alguma coisa ver o facebook assistir netflix comer e dormir.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

mapeamento colaborativo // ocupação cultural ermelino matarazzo


Desde que me mudei pra cá sigo o facebook da Ocupação Cultural Ermelino Mattarazzo, movimento de resistência urbana na quebrada, coisa linda de se ver. Até ontem a inércia tinha me impedido de ir, mas o algoritmo do site faces é um safado, e enquanto eu programava a agenda da semana, brotou na timeline esse evento, organizado pelo Periferia Invisível e São Mateus em Movimento. Lá fui eu pra Ermelino de mochilinha. Cheguei lá e na encruzilhada achei o ponto de encontro. Várias caras boas, vários corres, galera trabalhando com arte e educação a sério, isso sempre me faz lembrar da importância da educação anti-escolar, em rede, fluida, sem hierarquias como instrumento potente, eficiente e de curto prazo para transformação do ambiente e das existências. 
O mediador é o Aloisio, do São Mateus em Movimento. Ele trabalha com cartografias, movimentos sociais, cultura digital, produção e difusão de informações, cursa mestrado em ¿urbanismo?, me lembra várias pessoas do fluxo pensadores centro underground, achei interessante o caminho que cria esse diálogo e essa possibilidade de trocas e de conquista de saberes que nem chegam tão longe no mapa, geralmente. 
Nesse primeiro encontro, vários conceitos e provocações foram apresentados, isso me fez perceber a necessidade emergente de que eu comece os estudos teóricos para me sentir segura nos passos do projeto. Muitas pessoas mais maneiras que eu já fizeram vários exercícios cartográficos, se eu partir de experiências alheias, provavelmente vou chegar a lugares mais prazerosos que começando sempre tudo do zero. (é foda viver viver viver pra só com 27 anos tomando na cara aprender um negócio bem besta e primordial)



Todo mapa tem um discurso: Documentário levanta principais questões simbólicas e práticas sobre as regiões marginalizadas que não pertencem ao mapa oficial da cidade

Memórias de caminhos para casa e outras experiências cartográficas

PROJETO DE INTERVENÇÃO URBANA GALERIAS SUBTERRÂNEAS E OSDESCARTÓGRAFOS: Intercâmbios entre Arte e Geografia, em Curitiba. 



QGIS software opensource de cartografia


segunda-feira, 12 de setembro de 2016

o que esteve acontecendo // arremate de inverno


A pesquisa com zines finalmente começou a render frutos. Algumas compras foram efetuadas, o acervo começou a ser construído com as obras que serão referência nas oficinas. Existem alguns requisitos que estão sendo levados em conta para adquirir as zines, ainda que alguns exemplares não contemplem todos os itens:
  • valor: até R$10 (alguns exemplares foram mais caros)
  • variedade de técnicas
    • suporte (os papéis, as dobraduras, a complexidade das dobras/ costuras)
    • técnica (fotografia, ilustração, texto, tipos de impressão, carimbos, adesivos)
    • temática (arte, contra cultura, feminismo, poesia)
  • abranger a maior gama possível de possibilidades, para tornar a oficina um caldo criativo.
Grande parte do acervo foi adquirido via facebook e na feira Tijuana, que aconteceu dias 3 e 4 de setembro na Casa do Povo. Visitar a feira foi de extrema importância para o processo criativo. Entrar em contato com artistas de todo o Brasil, discutindo assuntos diversos, confluentes, a repetição dos signos. Foi muito prazeroso perceber as descobertas e pertencimentos desses movimentos autônomos, interligado pelas pesquisas, referências, temáticas. Das diversas coisas maravilhosas que eu vi, três me chamaram muito a atenção. 

cartografia do tempo, marrytsa melo, nano editora. 
Além do nome que me afetou instantaneamente, a autora me contou a história da concepção da zine (que eu demorei muito pra escrever e já não lembro direito, parabéns Luara, mas vou averiguar com ela). 
A zine foi concebida no Rio de Janeiro, paredes antigas e descascadas foram fotografadas. As topografias desgastadas foram reunidas nessa zine de dobradura clássica, impressa em papel brilhante, com lacre transparente. Fiquei principalmente surpreendida com a beleza de uma zine muito simples, sem palavras e o impacto que ela causa. 
Me lembrou também algumas das fotos que estava fazendo para o projeto, como sempre achei muito auspicioso, gosto quando acho uma ideia igual a minha que outra pessoa pensou sozinha, me sinto mais confiante.

mirante, luciana miyuki, kamikaze publicações.
O que me atraiu inicialmente foi o formato: eu adorava fazer flipbooks em post-its quando estava na escola, foi muito inspirador encontrar esse formato em 2016 nessa altura com campeonato. Já comecei a esboçar os flipas para o projeto e acredito que pode ser uma série muito bonita. 
O que mais foi surpreendente é que fui descobrindo muitas confluências com o trabalho da luciana,  muitos dos conceitos que quero explorar no meu trabalho gráfico aparece nas produções dela. Desvio, suportes sobrepostos, trajetos. Sem contar que descobri essa coisa maravilhosa que é a mostra nacional de gif que me deixou cheia de ideias e planos futuros. Sempre muito legal quando um objeto é na verdade uma chave de portal. 
ituiutaba, elisa freitas, editora criatura.  
Por último mas não menos importante, essa zine maravilhosa que é a própria cartografia afetiva da cidade em que cresceu, onde os pais moram até hoje. A artista trabalha com fotografia pb, e fez esse trabalho muito delicado de contar a história de uma cidade. Permanência e degradação, a tranquilidade, um tempo bem lento ficam colados depois de passear pela zine. 
Uma das coisas que eu mais gostei, enquanto a gente conversava, foi que quando o pai viu a zine pronta, ele não gostou, porque a cidade não é assim. Fiquei pensando sobre as diversas cidades que cada um de nós habita, e que presunçoso de minha parte querer fazer uma cartografia afetiva desse bairro. Entretanto, me senti mais instigada a procurar as alternativas para narrar essas histórias. 
Ainda não li quase nada das zines que comprei, mas conforme for lendo vou escrevendo sobre as mais emocionantes. 



A primeira zine com o título trajetos celulares // memória na leste foi produzida para a avaliação do projeto dia 29.08. Queria fazer uma zine que reunisse um pouco do que foi criado até agora, além de ser explicativa. Ela foi feita a mão e fotografada, os textos corridos foram inseridos digitalmente. Tem sido muito prazeroso olhar pra ela, foi uma concretização muito importante para todo o meu processo produtivo. Me dei conta que já posso começar a produzir com o material que tenho. Vou me focar nas séries, porque vai ser legal agrupar as zines de alguma maneira (já que invariavelmente temas e formatos vão se repetir), além de criar portfólio e material de exposição. Os flipabooks vão ser um formato (aliado ao gif), gostaria de trabalhar com um formato maior para as vistas, talvez postais (juntamente com pinlux de pontos marcantes do bairro).  Fiquei com vontade de fazer quebra-cabeças também, mas são por sublimação. Talvez não sobre grana pra tudo isso, mas sonhar é free.
Tem sido interessante pensar que primeiro foi preciso ajuntar um monte de material sem sentindo, mas que finalmente as coisas estão se encaixando e virando produtos, objetos, lindezas. Agora é mais fácil criar as divisórias, as hashtags, categorias da vida real. O trabalho passa a ter um corpo e ser por si só uma narrativa. As possibilidades de narrativas não verbais abrem outras possibilidades de existências e transposições pelo mundo.
Percebo como minhas técnicas evoluindo, o site ficou bonito. Curti meu trampo. (: Mesmo que ele esteja engatinhando, é legal perceber que a minha estética atrai as pessoas, cativa, estimula a interação. Me sinto mandando bem, apesar de todos os pesares. Acho que esse é o momento de começar a subir material para o site e ver o que rola. Pode ser que um caos controlado (bem meu tipo) seja uma plataforma interessante.


 É isso que eu tenho feito. Gosto de fazer esses apanhados gerais porque acabo percebendo que tem muito mais estrutura no projeto do que eu imagino, e que ele de alguma maneira se sustenta. Também percebo a minha crianção se refinando e estabelecendo diálogos internos.

Agora só vamos.