quarta-feira, 21 de setembro de 2016

mapa afetivo. como chegar na minha casa.


passo pelo rastro do espetinho que custava um real e sempre tinha um monte de caras ali mas ele não existe mais dizem que mudou de lugar mas não sei pra onde foi mas pra mim ele continua existindo pois sempre que passo ali vem essa lembrança que é recente até e vem até o cheiro se bobear vez ou outra observo um detalhe alguma casa que nunca tinha reparado isso acontece mais quando ando em companhia com alguém tem uma pizzaria sorveteria que é a última a fechar e quando passo e ela já está fechada vejo que é tarde mesmo e lembro da minha mãe falando pra sempre pegar lotação porque é perigoso porque não tem ninguém na rua mas é tão boa essa sensação de escuridão e ninguém na rua tem a igreja com seu letreiro escrito algo tipo vamos acordar todos juntos contra a exploração e sempre lembro de ti quando passo ali pois tu que me fizeste perceber a mensagem que eu nunca tinha lido mesmo ela sendo luminosa vermelha gritando me leia por favor tem a igreja redonda da cúpula azul à qual pertence esse letreiro e parece que tudo gira em torno dela várias ruas dão até ela e lembro às vezes do velório do meu avô há uns quinze anos que foi ali e lembro quando passo pela escada da igreja de quando entramos eu joão e carla ali e tinha o santo antônio e vitrais lindos e dentro era tudo azul por conta da cúpula e sempre tenho vontade de dar uma entrada mas essa hora ela já tá fechada e sigo subindo me aborreço um pouco com as subidas que são tão brandas mas meu corpo e principalmente meu pulmão insiste em não gostar delas mas vamos lá passo pela banca inabitada e sempre penso que ali atrás entre ela e a pracinha a primeira pracinha do caminho tirando a praça do lado do metrô dá um bom esconderijo de gente bate uma pontinha de medo mas não é nada continuo seguindo pela escola e as coisas todas pintadas no muro que nem lembro direito o que é segunda praça e a feira que tem toda terça à tarde ali o bar vermelho que marca o meio da jornada é um bar engraçado que tem uma escada de caracol branca pequena na área externa que dá pro nada, uma stairway to heaven sempre tenho vontade de subir nela cantar uma música ali em cima dar um close sigo reto tem a casinha azul um semi nível abaixo da rua na esquina do outro lado do bar que sempre tem umas roupas coloridas no varal mas à noite a cor é o escuro e as roupas não existem gosto disso mais uma praça quando não é tão tarde sempre tem uns boy fumando beck nessas praças às vezes fico meio desconfortável de passar por não saber se eles vão mexer comigo na real mexer quase nunca mexem mas comentam mas prefiro passar do outro lado da rua aí tem a praça que sempre tem os despachos vasilhas de barro com frutas comidas dentro as vezes uma pomba morta dentro as vezes as penas as pernas ensanguentadas caídas no meio da calçada e os rastros das macumbas perduram durante dias ali tem os lava rápido um murão com um carro amarelo grandão pintado e na placa escrito jordânia que é o nome da rua essa rua fofa cheia de praças e do outro lado do lava rápido mais uma praça onde tem os cachorros pretos que sempre latem e os cachorros dentro das casas que sempre latem também quando passa gente e quando é outono tem um pezinho de pitanga e pitanga me desperta uma nostalgia boa da infância passando a praça dos cachorros pretos onde tem também a casa das crianças onde um dia era dia das crianças e elas tinham colocado todos os brinquedos pra fora de casa e tavam ali na calçada brincando e parei ali e fiquei brincando umas horas com elas mas hoje não lembro dos rostos sou muito ruim com isso adoraria visitá-las fazer amizade com elas mas a timidez me faz sempre apenas passar reto ali aí logo vem o posto onde uma vez um cara doidão tava ali cuidando da conveniência e nos chamou pra sentar beber um vinho e ficou falando de como ele era bicho do mato e falou que no momento ele tava morando ali mesmo e mostrou onde dormia num espacinho na própria conveniência em meio a bombas de gás e o cheiro forte e o colchão no chão e a mochila e uns livros e tem o mercado do outro lado da rua que depois de fechado fica tocando uma rádio toda noite lá de dentro e fico imaginando mil coisas que possam estar acontecendo atrás daquele portão aí tem a casa que é em cima do dentista que é a casa que uma das meninas do dia das crianças disse que mora e eu adoraria bater ali um dia e chamar ela pra brincar e depois sempre fico na dúvida se subo pela rua da pracinha que é mais legal mas a subida é maior ou pela rua do lado que a subida é mais de boas e geralmente vou pela menor subida passando pelo milkshake que fui com a tay e tem a loja onde às vezes compro ervas pra banhos e a casa de umbanda que tenho vontade de conhecer mas que meus pais recomendam que não porque tem umas vizinhas bem treta bem treta mesmo familia italiana briguenta mas que briga por uns motivos muito errados e odeiam meus pais por histórias do passado que frequentam e fazem trabalhos ali e acho melhor mesmo não ir e chego na minha rua que gosto muito não porque é uma rua bonita ou interessante esteticamente mas porque as pessoas aqui são ótimas e passo pela casa do carlão e da tereza e sempre tenho vontade de entrar ali pra tomar um café porque eles são tão legais e passo pela casa onde sempre tem cheiro de cocô e o terreiro que frequentava onde aprendi muita coisa e abro a mochila pego a chave de casa abro a porta e ufa operação realizada com sucesso agora é correr pro abraço do colchão do computador escrever alguma coisa ver o facebook assistir netflix comer e dormir.

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